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. Eu o vi passando para onde sempre vai disse a mulher. Só que hoje ele estavade carro.O padre me olhou sem dizer nada. Nos dê sua bênção, padre disse a mulher. O poder que é dele& & da Virgem cortou o padre. & da Virgem Mãe, este poder também é do senhor.Foi o senhor que o trouxeaqui.Desta vez o padre evitou meu olhar. Reze meu marido, padre insistiu a mulher.O padre respirou fundo. Fique em pé na minha frente disse para o homem.O velho obedeceu.O padre fechou os olhos e rezou uma ave-maria.Depois,invocou o Espírito Santo, pedindo que estivesse presente e ajudasse aquele homem.De um momento para o outro, começou a falar rápido.Parecia uma oração deexorcismo, embora eu já não pudesse acompanhar direito o que dizia.Suas mãos tocavam osombros do homem, e deslizavam por seus braços até seus dedos.Ele repetiu este gesto váriasvezes.O fogo começou a crepitar mais forte na lareira.Podia ser coincidência, mas talvezo padre estivesse entrando em terrenos que eu não conhecia e que interferiam nos elementos.Eu e a mulher nos assustávamos cada vez que uma lenha estourava.O padre nem sedava conta; estava entregue a sua tarefa um instrumento da Virgem, como havia dito antes.Falavana língua estranha.As palavras saíam com uma velocidade surpreendente.Suas mãos já não semexiam estavam colocadas nos ombros do homem à sua frente.De repente, assim como havia começado, o ritual parou.O padre virou-se e deuuma bênção convencional, movendo a mão direita num grande sinal-da-cruz. Deus esteja sempre nesta casa disse ele.E, virando-se para mim, pediu que continuássemos a caminhada. Mas falta o café disse a mulher, assim que nos viu saindo. Se eu tomar café agora, não durmo respondeu o padre.A mulher riu, e murmurou algo como ainda é de manhã.Não deu para escutardireito, porque já estávamos na estrada. Padre, a mulher falou de um rapaz que curou seu marido.Foi ele. Sim, foi ele.Eu comecei a me sentir mal.Lembrava-me do dia anterior, de Bilbao, daconferência em Madrid, das pessoas falando em milagres, da presença que senti enquanto rezavaabraçada aos outros.E eu amava um homem que era capaz de curar.Um homem que podia servir aopróximo, trazer alívio ao sofrimento, devolver a saúde aos enfermos e a esperança aos seusparentes.Uma missão que não cabia numa casa com cortinas brancas e discos e livros preferidos. Não se culpe, minha filha disse ele. O senhor está lendo meus pensamentos. Sim, estou respondeu o padre. Também tenho um dom, e procuro ser dignodele.A Virgem me ensinou a mergulhar no turbilhão das emoções humanas, para saber dirigi-las damelhor maneira possível. O senhor também faz milagres. Não sou capaz de curar.Mas tenho um dos dons do Espírito Santo. Então o senhor pode ler meu coração, padre.E sabe que o amo, e este amor crescea cada instante.Nós descobrimos juntos o mundo, e juntos permanecemos nele.Ele esteve presenteem todos os dias de minha vida querendo ou não.O que eu poderia dizer para aquele padre que caminhava ao meu lado? Ele jamaisentenderia que tive outros homens, me apaixonei, e se tivesse me casado seria feliz.Ainda criança,eu havia descoberto e esquecido o amor numa praça de Soria.Mas, pelo visto, não fiz um bom trabalho.Bastaram três dias para que tudo voltasse. Tenho o direito de ser feliz, padre.Recuperei o que estava perdido, não querotornar a perder.Vou lutar pela minha felicidade. Se eu renunciar a esta luta, estarei também renunciando a minha vida espiritual.Como o senhor diz, seria afastar Deus, o meu poder e a minha força de mulher.Vou lutar por ele,padre.Eu sabia o que aquele homem baixo e gordo estava fazendo ali.Tinha vindo parame convencer a deixá-lo, porque ele tinha uma missão mais importante a cumprir.Não, não ia acreditar naquela história de que o padre que caminhava ao meu ladogostaria que nos casássemos, para morar numa casa igual àquela em Saint-Savin.O padre dizia istopara me enganar, para que eu abaixasse minhas defesas, e então com um sorriso me convencerdo contrário.Ele leu meus pensamentos sem dizer nada.Talvez estivesse me enganando, não eracapaz de adivinhar o que os outros pensavam.A neblina se dissipava rapidamente, eu agora podiaver o caminho, a encosta da montanha, o campo e as árvores cobertos de neve.Minhas emoçõestambém iam ficando mais claras.Droga! Se fosse verdade, e o padre fosse mesmo capaz de ler pensamentos, quelesse e soubesse de tudo.Que soubesse que ontem ele quis fazer amor comigo, eu recusei e estavaarrependida.Ontem pensava que, se ele tivesse que partir, eu poderia sempre lembrar o velhoamigo de infância.Mas era bobagem.Mesmo que seu sexo não tenha penetrado em mim, algo maisprofundo penetrou, e meu coração foi atingido. Padre, eu o amo repeti. Eu também.O amor sempre faz besteiras.No meu caso, me obriga a tentar afastá-lo de seu destino. Não será fácil me afastar, padre.Ontem, durante as orações em frente à gruta,descobri que posso também despertar estes dons de que o senhor está falando.E vou usá-los paramantê-lo junto a mim. Oxalá disse o padre, com um leve sorriso no rosto. Oxalá você consiga.O padre parou, e tirou um terço do bolso.Depois, segurando-o, olhou dentro dosmeus olhos. Jesus disse que não se deve jurar, e eu não estou jurando.Mas estou lhe dizendo,na presença do que me é sagrado, que eu não desejaria que ele seguisse a vida religiosaconvencional.Não gostaria que ele fosse ordenado sacerdote. Ele pode servir a Deus de outras maneiras.Ao seu lado.Eu custava a acreditar que estivesse dizendo a verdade.Mas estava. Ele está ali disse o padre.Eu me virei.Podia ver um carro parado um pouco adiante.O mesmo carro em queviemos da Espanha. Ele sempre vem a pé respondeu, sorrindo. Desta vez, quis nos dar a impressãode que tinha viajado para longe.A neve ensopava o meu tênis.Mas o padre estava usando sandálias abertas, commeias de lã e resolvi não reclamar.Se ele podia, eu também podia.Começamos a subir em direção aos picos. Quanto tempo vamos andar? Meia hora, no máximo. Aonde estamos indo? Ao encontro dele.E de outros.Vi que não queria continuar a conversa.Talvez necessitasse de todas as suasenergias para subir.Caminhamos em silêncio a neblina agora já estava quase dissolvida, e o discoamarelo do sol começava a aparecer.Pela primeira vez, eu podia ter uma visão completa do vale; um rio correndo láembaixo, alguns povoados espalhados, e Saint-Savin, encravada na encosta daquela montanha.Reconheci a torre da igreja, um cemitério que nunca notara antes e as casas medievais com vistapara o rio.Um pouco abaixo de nós, por um lugar onde já havíamos passado, um pastor agoraconduzia seu rebanho de ovelhas. Estou cansado disse o padre. Vamos parar um pouco.Limpamos a neve de cima de uma pedra, e nos recostamos.O padre suava e seuspés deviam estar congelados. Que Santiago conserve minhas energias, porque ainda quero percorrer seucaminho mais uma vez disse o padre, virando-se para mim.Não entendi o comentário, e resolvi mudar de assunto. Existem marcas de passos na neve falei. Algumas são de caçadores.Outras são de homens e mulheres que querem reviveruma tradição. Que tradição? A mesma de são Savin [ Pobierz caÅ‚ość w formacie PDF ]
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. Eu o vi passando para onde sempre vai disse a mulher. Só que hoje ele estavade carro.O padre me olhou sem dizer nada. Nos dê sua bênção, padre disse a mulher. O poder que é dele& & da Virgem cortou o padre. & da Virgem Mãe, este poder também é do senhor.Foi o senhor que o trouxeaqui.Desta vez o padre evitou meu olhar. Reze meu marido, padre insistiu a mulher.O padre respirou fundo. Fique em pé na minha frente disse para o homem.O velho obedeceu.O padre fechou os olhos e rezou uma ave-maria.Depois,invocou o Espírito Santo, pedindo que estivesse presente e ajudasse aquele homem.De um momento para o outro, começou a falar rápido.Parecia uma oração deexorcismo, embora eu já não pudesse acompanhar direito o que dizia.Suas mãos tocavam osombros do homem, e deslizavam por seus braços até seus dedos.Ele repetiu este gesto váriasvezes.O fogo começou a crepitar mais forte na lareira.Podia ser coincidência, mas talvezo padre estivesse entrando em terrenos que eu não conhecia e que interferiam nos elementos.Eu e a mulher nos assustávamos cada vez que uma lenha estourava.O padre nem sedava conta; estava entregue a sua tarefa um instrumento da Virgem, como havia dito antes.Falavana língua estranha.As palavras saíam com uma velocidade surpreendente.Suas mãos já não semexiam estavam colocadas nos ombros do homem à sua frente.De repente, assim como havia começado, o ritual parou.O padre virou-se e deuuma bênção convencional, movendo a mão direita num grande sinal-da-cruz. Deus esteja sempre nesta casa disse ele.E, virando-se para mim, pediu que continuássemos a caminhada. Mas falta o café disse a mulher, assim que nos viu saindo. Se eu tomar café agora, não durmo respondeu o padre.A mulher riu, e murmurou algo como ainda é de manhã.Não deu para escutardireito, porque já estávamos na estrada. Padre, a mulher falou de um rapaz que curou seu marido.Foi ele. Sim, foi ele.Eu comecei a me sentir mal.Lembrava-me do dia anterior, de Bilbao, daconferência em Madrid, das pessoas falando em milagres, da presença que senti enquanto rezavaabraçada aos outros.E eu amava um homem que era capaz de curar.Um homem que podia servir aopróximo, trazer alívio ao sofrimento, devolver a saúde aos enfermos e a esperança aos seusparentes.Uma missão que não cabia numa casa com cortinas brancas e discos e livros preferidos. Não se culpe, minha filha disse ele. O senhor está lendo meus pensamentos. Sim, estou respondeu o padre. Também tenho um dom, e procuro ser dignodele.A Virgem me ensinou a mergulhar no turbilhão das emoções humanas, para saber dirigi-las damelhor maneira possível. O senhor também faz milagres. Não sou capaz de curar.Mas tenho um dos dons do Espírito Santo. Então o senhor pode ler meu coração, padre.E sabe que o amo, e este amor crescea cada instante.Nós descobrimos juntos o mundo, e juntos permanecemos nele.Ele esteve presenteem todos os dias de minha vida querendo ou não.O que eu poderia dizer para aquele padre que caminhava ao meu lado? Ele jamaisentenderia que tive outros homens, me apaixonei, e se tivesse me casado seria feliz.Ainda criança,eu havia descoberto e esquecido o amor numa praça de Soria.Mas, pelo visto, não fiz um bom trabalho.Bastaram três dias para que tudo voltasse. Tenho o direito de ser feliz, padre.Recuperei o que estava perdido, não querotornar a perder.Vou lutar pela minha felicidade. Se eu renunciar a esta luta, estarei também renunciando a minha vida espiritual.Como o senhor diz, seria afastar Deus, o meu poder e a minha força de mulher.Vou lutar por ele,padre.Eu sabia o que aquele homem baixo e gordo estava fazendo ali.Tinha vindo parame convencer a deixá-lo, porque ele tinha uma missão mais importante a cumprir.Não, não ia acreditar naquela história de que o padre que caminhava ao meu ladogostaria que nos casássemos, para morar numa casa igual àquela em Saint-Savin.O padre dizia istopara me enganar, para que eu abaixasse minhas defesas, e então com um sorriso me convencerdo contrário.Ele leu meus pensamentos sem dizer nada.Talvez estivesse me enganando, não eracapaz de adivinhar o que os outros pensavam.A neblina se dissipava rapidamente, eu agora podiaver o caminho, a encosta da montanha, o campo e as árvores cobertos de neve.Minhas emoçõestambém iam ficando mais claras.Droga! Se fosse verdade, e o padre fosse mesmo capaz de ler pensamentos, quelesse e soubesse de tudo.Que soubesse que ontem ele quis fazer amor comigo, eu recusei e estavaarrependida.Ontem pensava que, se ele tivesse que partir, eu poderia sempre lembrar o velhoamigo de infância.Mas era bobagem.Mesmo que seu sexo não tenha penetrado em mim, algo maisprofundo penetrou, e meu coração foi atingido. Padre, eu o amo repeti. Eu também.O amor sempre faz besteiras.No meu caso, me obriga a tentar afastá-lo de seu destino. Não será fácil me afastar, padre.Ontem, durante as orações em frente à gruta,descobri que posso também despertar estes dons de que o senhor está falando.E vou usá-los paramantê-lo junto a mim. Oxalá disse o padre, com um leve sorriso no rosto. Oxalá você consiga.O padre parou, e tirou um terço do bolso.Depois, segurando-o, olhou dentro dosmeus olhos. Jesus disse que não se deve jurar, e eu não estou jurando.Mas estou lhe dizendo,na presença do que me é sagrado, que eu não desejaria que ele seguisse a vida religiosaconvencional.Não gostaria que ele fosse ordenado sacerdote. Ele pode servir a Deus de outras maneiras.Ao seu lado.Eu custava a acreditar que estivesse dizendo a verdade.Mas estava. Ele está ali disse o padre.Eu me virei.Podia ver um carro parado um pouco adiante.O mesmo carro em queviemos da Espanha. Ele sempre vem a pé respondeu, sorrindo. Desta vez, quis nos dar a impressãode que tinha viajado para longe.A neve ensopava o meu tênis.Mas o padre estava usando sandálias abertas, commeias de lã e resolvi não reclamar.Se ele podia, eu também podia.Começamos a subir em direção aos picos. Quanto tempo vamos andar? Meia hora, no máximo. Aonde estamos indo? Ao encontro dele.E de outros.Vi que não queria continuar a conversa.Talvez necessitasse de todas as suasenergias para subir.Caminhamos em silêncio a neblina agora já estava quase dissolvida, e o discoamarelo do sol começava a aparecer.Pela primeira vez, eu podia ter uma visão completa do vale; um rio correndo láembaixo, alguns povoados espalhados, e Saint-Savin, encravada na encosta daquela montanha.Reconheci a torre da igreja, um cemitério que nunca notara antes e as casas medievais com vistapara o rio.Um pouco abaixo de nós, por um lugar onde já havíamos passado, um pastor agoraconduzia seu rebanho de ovelhas. Estou cansado disse o padre. Vamos parar um pouco.Limpamos a neve de cima de uma pedra, e nos recostamos.O padre suava e seuspés deviam estar congelados. Que Santiago conserve minhas energias, porque ainda quero percorrer seucaminho mais uma vez disse o padre, virando-se para mim.Não entendi o comentário, e resolvi mudar de assunto. Existem marcas de passos na neve falei. 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